Escrito no
século XIX, o clássico de Manuel Antonio de Almeida, Memórias de um Sargento de
Milícias, antecipa o Realismo no Brasil reunindo tipos marcantes que viviam na
época do rei Dom João VI. Trazendo uma linguagem mais coloquial e popular, tudo
começa com os pais de Leonardo, que vieram para o Brasil junto com a família
real. No navio o pai, Leonardo Pataca, conhece a verdureira Maria da Hortaliça,
moça fogosa e namoradeira. No convés, ele pisa no pé dela, que lhe retribui com
um beliscão. Assim, ambos passam a se conhecer. Passado um tempo, entre
pisadelas e beliscões, Maria engravida e nasce Leonardinho, menino grande,
gordinho, esperneador e chorão.
Já vivendo juntos, ao voltar
mais cedo do trabalho, Leonardo encontra a esposa com um amante, que escapa
pela janela ao ser surpreendido. O casal briga e Maria foge com o capitão de um
navio. A partir daí começam as aventuras de Leonardo, que vai morar com os
padrinhos: uma parteira e um barbeiro.
O
padrinho também não era “boa coisa”, pois enganara um homem à beira da morte
que confiou a ele toda sua fortuna pedindo-lhe que a entregasse a uma filha. A
fortuna nunca foi entregue. (Cap. IX – p.31-32). Eis uma das características realistas presentes no romance.
Quanto a
Leonardinho, nosso protagonista, este tinha um prazer enorme em desobedecer a
tudo que lhe era ordenado (Cap. XIII – p.41). Após a morte do padrinho, volta a
morar com seu pai. Mas, ao se desentender com sua madrasta, acaba fugindo de
casa e indo morar com um amigo. Até no amor era inconstante. Depois de
apaixonar-se por Luisinha e perdê-la para José Manoel, um espertalhão
caça-dotes (Cap. XXXII – p.93 e Cap. XXXV – p.100), Leonardo apaixona-se por
Vidinha, que o corresponde. Violeira, cantora de modinhas (Cap. XXXI – p.89) e
ciumenta até não poder mais (Cap. XXXIX – p.108-109), Vidinha morava na mesma
casa do amigo que o acolheu.
O tempo passa e, após muitas idas e vindas, a decepção com
Vidinha e o fim do casamento de Luisinha e José Manoel, Leonardinho e Luisinha
finalmente se casam.
Neste
romance de Manuel Antonio de Almeida, não existem personagens idealizados. Ao
mostrá-los com mais defeitos do que qualidades, o autor denuncia as diferenças
sociais e o caráter imoral dessa gente. O fato de um anti-herói, rei da mentira
e da malandragem, acabar se tornando um Sargento de Milícias é, no mínimo,
irônico. Mais do que isso, a caricatura e o sarcasmo, adotados pelo autor,
criticam a falsidade da religião, os interesses matrimoniais, o abuso das
autoridades policiais e a vadiagem como meio de vida.
Ainda
hoje a situação não mudou muito. Memórias de um Sargento de Milícias traz, de
certo modo, as “raízes” do povo brasileiro com seu “arranjar-se”. O malandro é
um dos tipos mais populares da Literatura Brasileira. Figura adorável para uns,
desprezível para outros, contraditória e surpreendente. Leonardo é o personagem
precursor de outros personagens de caráter duvidoso como Brás Cubas, de Machado
de Assis, e Macunaíma, de Mário de Andrade.
Embora
contenha vários elementos realistas o romance foi escrito durante a época
romântica e, por esse motivo, traz muito de suas características, o que o torna
um romance romântico. O próprio título e a frase inicial do livro (“Era no
tempo do rei”) já remete o leitor ao saudosismo, seja do protagonista ou do
próprio autor, a um tempo anterior. Outros elementos característicos do Romantismo
também devem ser considerados, como a fuga, o exagero e o verdadeiro amor. A
valorização da malandragem e, mais especificamente, do “jeito malandro” acaba
por criar um herói brasileiro, que não tem capa e espada, mas tem um bom
coração e vence seus desafios. Em toda travessura praticada por Leonardo, este
nunca quis mal a ninguém, tinha, sim, o gosto pelo jogo, pela disputa. Surgia
na obra um sentimento nacionalista, típico do Romantismo.
Turminha, esse é um resumo que eu fiz do livro Memórias de um Sargento de Milícias (Manuel Antonio de Almeida). Podem usá-lo como modelo para produzirem o de vocês.
ResponderExcluirO título está como Resumo/Resenha, pois ele segue como resumo até o 4º parágrafo, daí pra frente, por conter ponto de vista crítico a respeito da obra e análises que vão além daquilo que o autor escreveu, já podemos classificá-lo como Resenha, que estudaremos em outro momento.